segunda-feira, 7 de julho de 2008

[Conto] Etílico?

Traguei o mundo em um só gole! Cada detalhe corre pelas veias, e cada artéria jorra metáforas, pulsante, com a vida embriagando minhas entranhas. Vou ao mundo, insano, armado até os dentes com meu violão e centenas de canções, tal qual o velho guerrilheiro da revolução perdida. Ao menor sinal de sorriso, disparo implacável, e com um só tiro, mato a Deus, o Diabo, e a moral ocidental. Cambaleio entre os carros, piso na grama, mijo na porta da delegacia. Assopro palavras caluniosas ao vento enquanto chuto todos os poodles que porventura cruzam meu caminho. Corro nu pela via expressa, perseguindo os pombos com uma gargalhada insana entre os dentes. Testemunho novas cores, novos sons. Em cada erro ressoa o estampido agudo da marreta e o cinzel lapidando meu coração de pedra, sofrendo com a erosão de minha respiração ofegante. Viro do avesso, e a embriaguez do mundo vira cotidiano, o louco vira cidadão comum, e malandros se apaixonam enquanto donzelas se prostituem. Regurgito, decrépito. No chão, o avesso do avesso dá o ar da graça, azedo e morno, enquanto senhoras incrédulas vão à igreja ouvir os sermões que não escutam. Amanhã o sol nascerá novamente.

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