quinta-feira, 26 de junho de 2008

[Ensaio] A sublime arte de enrolar...

Em um mundo cada vez mais atulhado por tecnologias, sistemas de informação, e sobretudo computadores mais velozes, o trabalhador brasileiro se depara com um dilema cada vez maior: o que fazer no tempo livre gerado pelos avanços tecnológicos, sobretudo no ambiente de trabalho?!

Ora! Se aumenta a produtividade sem aumentar o salário, o trabalhador não ganha nada em troca pelo que está trabalhando "a mais". Mas se o tempo "livre" gerado pela ampliação das tecnologias não é remunerado, ele pertence ao patrão? Mas e se a produtividade do patrão não aumenta junto com a de seus subordinados, por que ele merece o lucro advindo das inovações tecnológicas?! Esse tempo não pertence a ninguém??!

Enfim, embora a discussão quanto a quem pertence o trabalho realizado não esteja mais na moda (o bom e velho 'Capital' empoeirado na última prateleira do canto esquerdo que o diga!), nota-se que quanto mais tecnologia disponível, mais o assalariado se entretém com outras coisas: orkut, MSN, blog, jornais, youtube...quem nunca deu uma escapadinha durante o expediente?!? "Ah, mas no meu trabalho é bloqueado!" - ora, amigão, se você já descobriu isso é porque pelo menos já tentou...e isso tem um nome bem interessante: ABSENTEÍSMO!

Absenteísmo é a arte de produzir menos, num espaço de tempo onde seria plenamente possível produzir mais - e nele está incluído o tempo que você demora pra preparar o cafezinho, abrir o powerpoint que a colega crente lhe enviou, ou pesquisar para sua filha um trabalho pronto no Google. É natural...é a milenar arte do corpo mole, de enrolar, da malemolência, da catimba...enrolar faz parte do trabalho, uma arte para poucos (só quem está realmente muito bem preparado para exercê-la consegue passar totalmente despercebido, ora conversando coisas supostamente importantes ao cruzar com alguém no corredor, ou ficar horas e horas ouvindo os problemas da velhinha que necessita única e exclusivamente da atenção de alguém, nem que seja o atendente de telemarketing).

Trabalho? Atire a primeira pedra quem nunca matou...

segunda-feira, 16 de junho de 2008

[Ensaio] Uma Lua?

“Em meio a um cristal de ecos
O poeta vai pela rua
Seus olhos verdes de éter
Abrem cavernas na lua.
A lua volta de flanco
Eriçada de luxúria
O poeta, aloucado e branco
Palpa as nádegas da lua. (...)”

Trecho de “O Poeta e a Lua”, de Vinícius de Moraes. in. Antologia Poética.

---

Uma Lua?

Por um feliz acaso lingüístico, ou por pura malícia dos ancestrais, Lua é um substantivo simples, do gênero feminino. Um substantivo simples, para nos lembrar que a vida não é tão complicada como imaginamos, ou tão dura como tentamos torná-la. Uma consoante, duas vogais em ditongo decrescente, simplesmente Lua. Suave e mística, com seu olhar de morena velando a noite, inspirando poetas e vagabundos, dissolvendo risadas soltas no ar por nossas madrugadas tropicais, enquanto o sereno cai tranqüilo e contundente como agulhas em noites frias, ou então refrescante como a brisa marítima, quem sabe?!

Feminina pelos encantos que exerce em suas quatro faces: Nova, Crescente, Minguante, Cheia! Feminina, pois só uma bela mulher poderia exercer tais encantos sobre a humanidade. Feminina, pois só sendo feminina para conseguir tirar a atenção do homem sobre seu incólume mundo egoísta, e fazê-lo olhar para o céu, e suspirar: “Nossa, como a Lua está linda hoje?!”

Enfim, Feminina, pois mesmo depois do último copo, ou falecido o último dos poetas, o último dos sambistas e o último dos vagabundos, e mesmo depois de desiludido o último dos sonhadores, lá estará ela, triunfante, redonda e branca, reinando soberana sobre a madrugada...

quinta-feira, 12 de junho de 2008

[Ensaio] O tempo!

Outro dia vi na TV um professor de português dizendo que a frase correta é "correndo a favor do tempo", e não "contra o tempo", como é comumente usado. Fiquei intrigado...vê-lo corrigir uma metáfora de forma tão direta, com uma outra metáfora igualmente sem sentido lógico, me deixou encucado! Ambas são igualmente impraticáveis, ao menos no plano da física, pois o tempo é uma medida infinita e imaterial...logo correr, seja "contra" ou "a favor", obviamente vai ter o mesmo efeito - nenhum! Como o tempo é uma medida abstrata, baseada na relação de frequência entre diversos eventos reais distintos (correr dos ponteiros do relógio, goteira no telhado, a harmonia de uma música e a percussão, etc.), e não ocupa um espaço físico, como pode alguém correr "a favor" do tempo?? Impossível, cara pálida! O tempo simplesmente passa, num contínuo fluxo metafísico, sem fim e sem retorno - e não importa a direção pra onde você corra: ele sempre vai continuar "passando".
As vezes o orgulho tende a criticar alguma coisa, mesmo que não se tenha a solução...mas aí, camarada, é melhor dar tempo ao tempo, pois quem fica pensando no tempo também perde tempo!