quinta-feira, 28 de agosto de 2008

[Conto] O último cometa do século! (versão 2)

Muito prazer! Meu nome é Adamastor e sou o chefe dos ascensoristas de um belo prédio no centro da cidade – cargo que ganhei por merecimento, pois sigo no posto desde os dezenove anos, quando cheguei da Bahia. No que o síndico precisar, sempre estou à disposição, e tenho certo respeito dos outros funcionários justamente por ser o homem de confiança do prédio – qualquer desvio de conduta, de um atraso ao desleixo com o uniforme, eu encaminho ao Seu Gregório, para que tome as devidas providências. Sei que os outros funcionários falam mal de mim pelas costas, por ser muito rigoroso, mas não sei o que seria desse prédio sem mim! Não que ganhe mais que os outros para me comprometer com tais coisas, orçamento de condomínio é curto, sabe como é...mas fico satisfeito pelo respeito que a posição impõe aos outros. Agradeço a Deus todos os dias pelo meu emprego; na minha idade não é fácil arrumar nada melhor, e depois de tanto tempo, a única coisa que me especializei mesmo foi na lida com os elevadores – às vezes o elevador trava e eu consigo abrir a porta antes mesmo do técnico chegar, o que é um grande alívio para quem está preso lá dentro. Olha, nunca tive problema nenhum no emprego, até ontem, mas a culpa não foi minha! A culpa foi toda da Clotilde, da limpeza - uma coroa que é a cara do Zacarias, principalmente quando ri! Vou contar desde o princípio, para que você entenda melhor a história. No final, você me dará razão!

Acordei naquela manhã sonhando com minha ex-mulher, com uma enorme ereção. Não é muito normal acontecer, mas confesso que às vezes sinto falta daquelas carnes – um dia ela tomou um ônibus pro interior, levando minha filha para morar na casa da minha sogra, e nunca mais deu notícias, nem eu procurei. Até hoje não entendi direito o que aconteceu, e não sou homem de correr atrás de mulher. Duro é assistir novela sozinho. Bom, como dizia, acordei animado, e no caminho do ônibus decidi comprar esta luneta pra ver o último cometa deste século – como anunciou no Jornal Nacional. Fazia um calor infernal já pela manhã, e o asfalto soprava um bafo quente. Nenhum sinal de chuva nos próximos dias. Os camelôs espalhavam seus produtos pelas ruas; um carro-forte atrapalhava o trânsito na esquina de baixo, com seguranças armados e escolta da polícia; o funk soava forte no som de um Passat 82, com a lataria podre; buzinas gritavam o berro do recém-nascido esquecido dentro do carro, enquanto o calor cozinhava tudo isso em uma cena do juízo final. O serviço correu normal naquele dia; saí pontualmente, tomei uma cachacinha um pouco mais à frente, e fui até a loja; com o embrulho embaixo do braço achei melhor tentar montar tudo na cobertura do trabalho mesmo. Pegar o ônibus lotado com aquela caixa debaixo do braço seria complicado demais. Custou metade do meu salário, mas queria muito ver de perto o cometa e como o lojista parcelou em dez vezes no cartão de crédito, acabei comprando – por algum motivo estranho, meu crédito no cartão é bem maior que meu próprio salário. Parei pra tomar uma cervejinha antes de voltar pro prédio, só pra fazer uma hora e refrescar o calor.

Pois então! Perto das seis e meia, entrei apressado tentando não chamar a atenção dos outros funcionários, subi, e montei a parafernália por lá, e como ainda estava claro, comecei a olhar as janelas dos prédios em volta. Tudo muito chato, gente chegando nos prédios residenciais, gente se descabelando de trabalhar nos escritórios, e na janela de um dos prédios, um coroa mandando ver na secretária deliciosa – fiquei ali assistindo aquilo tudo, até que o pior aconteceu. A ereção da manhã tinha voltado com toda a força, o bicho latejava, e eu tomei um susto quando senti a Clotilde chegar de surpresa e botar a mão dentro da minha cueca. Essa mulher vive me dando indiretas, mas não tem cristo que agüente: é muito xarope e, além disso, é um dragão! Tentei disfarçar o volume na calça, falei sobre o cometa, sobre a luneta, mas ela já tinha subido decidida – quando percebeu minha ereção não teve dúvidas, me olhou com cara de fêmea no cio, ajoelhou e começou a me chupar. Tá certo que a ereção não era pra ela, e que ela não era a coisa mais atraente do mundo, mas não consegui me controlar e mandei tudo na cara dela, que depois me puxou pro chão com tanta força que eu acabei caindo no chão. Tem coisas que fazem o homem voltar a ser bicho. Só voltei a mim quando ouvi o Seu Gregório gritando nossa demissão para uma platéia de janelas à nossa volta – mandou a gente embora sem pensar duas vezes. Uma vizinha havia ligado indignada para a portaria. Algumas crianças já ensaiavam jogar água fria na gente. Os outros funcionários não paravam de rir de mim – o São Jorge do condomínio. Clotilde, semi nua, se escondia atrás de mim, com aquele corpo de carnes flácidas e sua boca quase invertebrada. Com o que gastei na luneta, poderia ter feito umas quinze visitas às camélias do passeio público – mais novas, com dentes, camisinha, e preservando meu emprego! Do céu ao inferno num piscar de olhos! Pior foi perceber depois que o cometa tinha passado durante aquilo tudo, não sei bem se enquanto comia a Clotilde ou se durante a repercussão do caso – só sei que perdi o cometa e o emprego no mesmo dia, e agora não tenho nem como pagar a luneta. Sou uma pessoa de Deus, mas minha vontade é de matar aquela faxineira dos infernos. Mas voltando ao que eu queria lhe dizer, por isso estou aqui, meu senhor: tem como o senhor receber essa maldita luneta de volta? Sequer foi usada...

8 comentários:

Daniel Salles disse...

Essa é a segunda versão...a terceira está sendo maquiavelicamente arquitetada! Vamos ver no que dá em alguns dias!

Anônimo disse...

Deu pena do pobre! Ansiosa pela terceira parte!

Bem Resolvida disse...

putz....agora vou ler a primeira versão mais lá em baixo!!

hilário!!!
Imaginei a cena toda. Muito envolvente tua história.
obrigada pela visita, volte sempre "pra um café"

Mariana disse...

Cheguei aqui por acaso.
Gostei!
Bom fim de semana.

Natália Mylonas disse...

Adoreii .
O conto, o nome do blog ...

Se quiser, lá em casa, as portas estão smp abertas.
Apareça !

Bjs =*

Tatah Marley's Confissões disse...

Obrigada pelo elogio querido, gosto de ver opinioes alheias as minhas..
E quanto ao teu texto, coitado vei.
mal posso esperar pra ver o final da saga!
hashuiahsuiahuisahsuia
;*

Bem Resolvida disse...

vim ver se o conto versão 3 já estava pronto!!! hehe

Gustavo Martins disse...

genial, fidel. a versão do cara está mais crua. e carne crua é melhor. aliás, aquela que nem passou perto do fogo. aquela cujo calor vem de dentro.

vamos pra terceira.