“Pleased to meet you, hope you guess my name,
But what’s puzzling you is the nature of my game”
The Rolling Stones – Simpathy of the Devil (1968)
Muito prazer! Eu bem sei que não é uma visita usual, a minha; prefiro observar à distância, e pela fama que recebo talvez seja o último indivíduo que você gostaria de ver pela frente, mas lhe asseguro, minha bela morena: não estou aqui para impor nada – só peço que me receba com o mínimo de cortesia, e permita-me apresentar-me – caso o que tenho a lhe dizer não cause nenhuma simpatia, irei embora com a mesma imprevisibilidade e distinção com que surgi, como um perfeito cavalheiro. Sou um homem refinado, e não estou aqui para desperdiçar nosso tempo com retóricas sediciosas, por isso não perca seu tempo confrontando-me: depois que eu me for, você terá todo o tempo do mundo para decidir o que fazer. Sem jogos, sem clichês, sem falsos interesses. Pouco me importa o lugar onde você estuda, se já é formada, onde você trabalha, quanto ganha, ou o seu signo no zodíaco – nada disso expressa o ponto aonde quero chegar. Também não estou preocupado com o fato de você gostar de baladas, esportes, ou de novelas, eu moro dentro dos teus momentos, onde você estiver, dentro de cada sorriso dissimulado, de cada olhar hesitante, de cada pensamento abafado no quarto escuro! A existência é um grande processo de interpretação, portanto permita-se interpretar-se a si mesma, e quando tiver realmente certeza de que ainda existe, talvez compreenda o que estou tentando lhe dizer.
Pela curiosidade de seus olhos, insta-me salientar, minha cara: prego a transformação, a audácia; a base do que lhe proponho se sustenta no fato de ser o caos a única saída viável, a partir do momento que o cosmo torna-se demasiadamente inerte e invariável; sou o tempero, o flerte, e a ousadia; sou o olhar através das cortinas do apartamento, famintos pelo turbilhão de acontecimentos que se engalfinham sob o parapeito; sou a curiosidade, o desapego e as alucinações; sou a estrada, o caminho, e o regente do destino, pois meu hálito faz-lhe enxergar o futuro e não se preocupar com ele; o futuro só existe a partir do momento que se torna presente, e você, no fundo, sabe muito bem disso; perto do que lhe proponho, os sofrimentos do mundo se dissipam no ar, como que incapazes de atingi-la; sou aquele que é temido por todos os chefes de Estado, não só por instigar a revolução, como também por buscá-los, absorto, à beira de cada guilhotina, forca ou parede de fuzilamento. Eu sou a bala que sai, o pó que entra, o filho que não volta; sou as faces da mesma moeda: o poder do dinheiro e a vida dos seus filhos eternamente sob escolta armada, entre a casa e a escola.
Mas não se engane, minha bela e sensual morena, cumpro meu destino aparentemente injurioso, tal qual Judas cumpriu sua missão ao entregar Jesus, para que se transformasse