segunda-feira, 16 de junho de 2008

[Ensaio] Uma Lua?

“Em meio a um cristal de ecos
O poeta vai pela rua
Seus olhos verdes de éter
Abrem cavernas na lua.
A lua volta de flanco
Eriçada de luxúria
O poeta, aloucado e branco
Palpa as nádegas da lua. (...)”

Trecho de “O Poeta e a Lua”, de Vinícius de Moraes. in. Antologia Poética.

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Uma Lua?

Por um feliz acaso lingüístico, ou por pura malícia dos ancestrais, Lua é um substantivo simples, do gênero feminino. Um substantivo simples, para nos lembrar que a vida não é tão complicada como imaginamos, ou tão dura como tentamos torná-la. Uma consoante, duas vogais em ditongo decrescente, simplesmente Lua. Suave e mística, com seu olhar de morena velando a noite, inspirando poetas e vagabundos, dissolvendo risadas soltas no ar por nossas madrugadas tropicais, enquanto o sereno cai tranqüilo e contundente como agulhas em noites frias, ou então refrescante como a brisa marítima, quem sabe?!

Feminina pelos encantos que exerce em suas quatro faces: Nova, Crescente, Minguante, Cheia! Feminina, pois só uma bela mulher poderia exercer tais encantos sobre a humanidade. Feminina, pois só sendo feminina para conseguir tirar a atenção do homem sobre seu incólume mundo egoísta, e fazê-lo olhar para o céu, e suspirar: “Nossa, como a Lua está linda hoje?!”

Enfim, Feminina, pois mesmo depois do último copo, ou falecido o último dos poetas, o último dos sambistas e o último dos vagabundos, e mesmo depois de desiludido o último dos sonhadores, lá estará ela, triunfante, redonda e branca, reinando soberana sobre a madrugada...

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