quarta-feira, 30 de julho de 2008

Ausência...

A vida tá difícil, vários textos começados, mas nenhum terminado - justamente no momento que eu estava mais empolgado na literatura, a inspiração saiu pra curtir o final de semana, tomou um porre, e até agora não voltou pra casa...mas estou aqui na transpiração, empolgadão na leitura sobre Kierkgaard e umas outras paradas, e quando a inspiração voltar vai me encontrar com caneta e papel na mão!

sexta-feira, 18 de julho de 2008

[Ensaio] Uma prece a Dionísio

Um pouco de mitologia grega. Dionísio, associado às festas, ao vinho, ao lazer e ao prazer, foi o único deus do panteão grego filho de um mortal. Segundo a mitologia, a divindade ordenou que lhe trouxessem uma bebida que alegrasse e inebriasse os sentidos. Experimentou de tudo, mas não se sentiu satisfeito até descobrir o vinho – ficou encantado com suas cores e nuances, ao mesmo tempo em que sentia sua textura e o aroma de fruta exalado pela bebida. Quando a bebida tocou seus lábios, sentiu a maciez do corpo do vinho e percebeu seu sabor único, suave e embriagador, num prazer singular. Sentiu o buquê, resultante do envelhecimento do vinho, e percebeu seu gosto mudando, como se abrisse com o tempo, enquanto descansava em sua taça, delirando com as sensações finais deixadas pelo vinho na boca. De tão alegre, Dionísio passou a abençoar e a proteger todo aquele que produzisse bebida tão divinal, sendo adorado como deus do vinho e da alegria. De fato, cada vinho possui sua personalidade, sua origem, sua gestação, sua idade, sua história – nenhum vinho é absolutamente igual, basta saber degustá-lo.

Para aproveitar essa característica singular em sua plenitude, surge a necessidade de se compreender melhor o que se está degustando – e aí, permito-me dizer que apreciar um bom vinho é como relacionar-se com uma mulher madura: se você não estiver preparado para seus prazeres, talvez não aproveite metade do que lhe é oferecido, ou talvez se apaixone cegamente, como se houvesse descoberto uma nova dimensão em sua vida, até então desconhecida – e antes que me acusem de machismo, pela comparação, manifesto minha admiração tanto pelos bons vinhos, quanto pelas mulheres maduras. Não que a firmeza da juventude também não tenha seus encantos, mas o amadurecimento é um processo delicado, cheio de detalhes, cuidados, tempos e repousos, que no fim podem resultar no mais sublime prazer, ou no mais acre vinagre. O amadurecimento mal feito pode resultar num buquê amadeirado demais, envelhecido demais, ácido demais, bouchonneé, adstringente, ou mesmo cru demais – e inexiste virtude em algo que seja ‘demais’. Assim como acontece com o vinho, algumas mulheres têm sua plenitude na idade mais tenra, firme e fechada, enquanto outras necessitarão de um período de maturação mais cuidadoso, para atingir todo seu potencial – quem nunca se deparou, tempos depois, com uma das musas da adolescência já sem qualquer sombra do esplendor de outrora, ou mesmo o contrário: a menina que não chamava a atenção de ninguém aos quinze anos, mas que aos vinte e nove exibe uma sensualidade pungente?!

Cada mulher tem sua personalidade, cada vinho tem sua história, e cada mulher tem seu próprio vinho - sim, há uma espécie de simbiose, de relacionamento, de cumplicidade entre uma personalidade e a outra – um ponto em comum entre seus segredos mais íntimos, talvez. Astrologia? Psicologia? Química? Enofilogia? Bom, prefiro manter-me simplesmente na análise empírica – tentativas e acertos em combinações de possibilidades infinitas. Tomar um vinho com uma mulher não é simplesmente convidá-la para beber, ou para bater papo; é conhecê-la intimamente, é desvendar seus segredos, compreender seus mistérios...mas isso só acontece com o vinho certo, aquele de sua personalidade e no momento certo - o tempo exato que trás uma correlação de sentidos, desejos, texturas e aromas, e é neste exato momento que um prazer metafísico lhes tocará, como Dionísio sorrindo e abençoando seus devotos. Degustar um bom vinho com uma mulher de valor não é o mesmo que degustar um vinho de valor com uma mulher boa – tudo depende do momento e dos objetivos – e creio que a esta altura do texto, você já tenha imaginado a melhor forma de elaborar sua própria prece a Dionísio.

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Caso a colocação de alguma palavra tenha lhe parecido estranha, um glossário pode ajudar: http://www.academiadovinho.com.br/biblioteca/glossari.htm

terça-feira, 15 de julho de 2008

[Ensaio] Fantástico?!

Um leve torcicolo me fez constatar a infeliz e desesperadora baixa qualidade dos programas de TV num domingo - não que já não soubesse isso antes, claro, mas realmente me surpreendi quando vi uma espécie de 'Reality Show' mostrando os problemas familiares de um jovem inglês, usuário de maconha, álcool, e com sérios problemas familiares, sendo transmitida como um verdadeiro show de horrores em pleno horário nobre! Para quem teve a sorte de não assistir ao lamentável programa, uma emissora internacional fez a cobertura dos problemas enfrentados por uma família inglesa, supostamente ocorridos após o filho ter começado a consumir maconha. A TV acompanha o dia-a-dia da família, mostrando inclusive o jovem consumindo drogas, bebendo, e chegando em casa doidão, além de mostrar para todo o mundo todas as discussões familiares, e até mesmo o conselho dos psicólogos. Tudo muito interessante, a fraca audiência da Rede Globo dando sinais de recuperação, pessoas comentando o quadro no dia seguinte no trabalho, tudo ótimo, até chegarmos a uma única questão: E A ÉTICA, ONDE FICA?
Que o doidão tem problemas, isso é indiscutível - e creio que a maconha seja apenas um de seus problemas, talvez o menor deles, mas com certeza está lhe fazendo mal! Talvez esse mal causado pelo uso da maconha esteja ligado a outros problemas - o de que ele esteja usando a droga como uma espécie de 'anti-depressivo', para outros problemas existentes em sua vida...até porque, nesses casos, valhe sempre a lição Tostines: o carinha tem problemas porque fica chapando o cabeção, ou chapa o cabeção porque tem problemas?!? Não sei, e nem pretendo julgá-lo, cada um recebe da vida seu próprio fardo, e só quem o carrega sabe o quanto pesa...mas acho realmente preocupante o excesso de peso que a emissora responsável pela produção do programa e a própria família que permitiu que todo esse problema fosse exposto a público estão jogando impiedosamente nas costas do cara...
O maior problema dele, não é a maconha: é a FAMÍLIA! Por maior que possa ser o amor de uma mãe por um filho, seu despreparo intelectual para lidar com uma pessoa de personalidade difícil pode ter um papel desgraçante - e no caso, não consigo ver de outra forma. Afinal, se a mãe é capaz de expor os problemas do filho assim, para a TV e o mundo, não consigo imaginar limites em suas atitudes e os problemas que ela possa ter causado em sua mente antes mesmo do cara fumar seu primeiro baseado ou botar a primeira gota de álcool na boca. Ou alguém aqui realmente acredita que imprimir um estigma de 'chapado' na testa de um indivíduo comum, divulgando seus problemas mais íntimos para o mundo todo vai lhe ajudar em alguma coisa??? Ele vai entrar para o showbizz por ficar conhecido como o 'doidão' que aparecia na TV?? Alguém está fazendo isso com a intensão de ajudar o cara?! Será que ele conseguirá ter credibilidade perante as pessoas que o reconhecerem?!? Acho que não...e a rede de tv com certeza está lucrando muito com o bizarro programa...será que pagou para a família algum cachê?!?
Esqueceram o ser humano e destroçaram a dignidade do cara, junto com sua individualidade. Duvido muito que isso ajude a curar seus problemas psicológicos; duvido também que ajude a família a 'recuperar' o filho com problemas; da mesma forma, duvido que ajude alguma família com o mesmo enrolo a solucionar seus problemas - no máximo, aquilo tudo serve como um manual do que "não fazer". Supostos especialistas desfilam sua empáfia, apontando soluções e certezas, sem ao menos observar a parte mais bizarra disso tudo: a falta do anonimato no tratamento...ou será que os 'especialistas' ainda não entenderam porque uma das regras principais do AA e do NA é justamente o anonimato?!??

terça-feira, 8 de julho de 2008

[Ensaio] Imagem e semelhança

“Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra.” (Gn 1:26-28)

Ontem estava relembrando meus tempos adolescentes de ‘ateu praticante’, uma fase em que tive imensa necessidade de negar racionalmente a existência do Deus pronto que todas as pessoas tentavam me fazer crer. Sempre achei de extrema ignorância a afirmação de que ‘política e religião não se discutem’ – até porque sempre adorei discutir sobre o tema. Foi um período muito interessante, pois ao passo que não conseguia acreditar em nenhuma crença na totalidade de seus preceitos, acabei por conhecer diversas religiões diferentes e a valorizar seus aspectos mais diversos, não mais como uma afronta ao bom senso, mas apenas como simples características; peculiaridades ínfimas, que talvez representem não o conhecimento cartesiano da verdade sobre Deus, mas apenas e tão somente uma de suas infinitas faces possíveis. Hoje tenho minha própria vida espiritual, independente e segura de si, embora acredite que, por ser algo tão individual, não me cabe expô-la aqui: a crença é minha, e de mais ninguém, não me interessando qualquer rótulo para ela – e é muito provável que nenhum leitor concorde 100% com o que penso, o que também respeito e valorizo.

Bom, se considerarmos a fé como uma justificativa local para os fenômenos desconhecidos, nascidas da soma das experiências individuais repetidas e compartilhadas em um plano comunitário, fica fácil perceber o papel da linguagem oral no decorrer de todo esse processo, pois mesmo quando codificadas em livros, como o caso das religiões hebraicas (judaísmo, cristianismo e islamismo), originalmente os fatos foram sendo contados boca a boca, até alguém ter tempo e conhecimento para passar tudo por escrito. E é justamente sob os escombros da linguagem oral que muitas vezes se escondem as passagens de maior sabedoria dentro das religiões – ocultas sob uma densa camada de poeira que só quando afastadas permitem-nos extrair parte do sumo da sabedoria antiga. Em cada tradição religiosa existente no planeta, o grupo mais velho passou a experiência de sua vida espiritual para os mais novos, que a partir dela criaram seus meios de se portar, de julgar, de se reproduzir e de morrer. Como tal experiência ocorre em um plano íntimo, pessoal, é de se esperar que em cada comunidade surja um modo diferente de sentir a presença dessa força criadora, e que a cada lugar essa força criadora receba um nome diferente.

Embora não seja cristão nem judeu, e isso pouco importe no momento, passei a noite anterior refletindo sobre o trecho da tradição hebraico/cristã que afirma o homem como ‘imagem e semelhança de Deus’. Durante muito tempo, tal passagem fez a massa enxergar na escuridão dessas palavras a imagem de Deus como o velho e barbudo pai de Adão, sentado soberanamente em seu trono nos céus, no papel ao mesmo tempo de déspota, guardião da moral e juiz – considerando como bestiais as religiões que se utilizavam de representações zoomórficas, ou mesmo a teoria de Darwin. Removendo alguns escombros, algumas manipulações (propositais ou não), os antigos possivelmente não acreditassem na semelhança física entre Criador e criatura – mas sim na semelhança interna entre ambos...ou seja, Deus não é semelhante ao homem, mas o homem que é semelhante a seu Deus. Assim, aquele que crê numa Força concentrada no julgamento implacável dos atos de suas criaturas em terra, talvez, em sua imagem e semelhança, torne-se uma pessoa extremamente preocupada com julgamentos, e com a possibilidade de definir um rigoroso padrão moral a ser seguido por todos, para alcançar a salvação, baseado em sua verdade individual, bem como o que crê num Deus vingativo e severo, ou benevolente e ponderado, temeroso e ignorante, terão visões de acordo com cada peculiaridade. Talvez o conhecimento passado pelo trecho seja o de que refletimos em nossos atos a forma como cremos no Deus ao qual nos reportamos, independente de Seu nome, imagens, ou representações.

Essas considerações acabam por tornar o exercício da fé algo ainda maior do que o puro exercício da fé: a forma como cremos é também uma integração entre comunidade, natureza e indivíduo – e por isso mesmo torna-se extremamente discutível, se dentro dos padrões aceitáveis de racionalidade. Quanto maior o conhecimento mútuo, menor a ignorância, a intolerância, o desrespeito – e consequentemente maior será a liberdade de consciência para analisar no que acreditar ou não!

segunda-feira, 7 de julho de 2008

[Conto] Etílico?

Traguei o mundo em um só gole! Cada detalhe corre pelas veias, e cada artéria jorra metáforas, pulsante, com a vida embriagando minhas entranhas. Vou ao mundo, insano, armado até os dentes com meu violão e centenas de canções, tal qual o velho guerrilheiro da revolução perdida. Ao menor sinal de sorriso, disparo implacável, e com um só tiro, mato a Deus, o Diabo, e a moral ocidental. Cambaleio entre os carros, piso na grama, mijo na porta da delegacia. Assopro palavras caluniosas ao vento enquanto chuto todos os poodles que porventura cruzam meu caminho. Corro nu pela via expressa, perseguindo os pombos com uma gargalhada insana entre os dentes. Testemunho novas cores, novos sons. Em cada erro ressoa o estampido agudo da marreta e o cinzel lapidando meu coração de pedra, sofrendo com a erosão de minha respiração ofegante. Viro do avesso, e a embriaguez do mundo vira cotidiano, o louco vira cidadão comum, e malandros se apaixonam enquanto donzelas se prostituem. Regurgito, decrépito. No chão, o avesso do avesso dá o ar da graça, azedo e morno, enquanto senhoras incrédulas vão à igreja ouvir os sermões que não escutam. Amanhã o sol nascerá novamente.

sexta-feira, 4 de julho de 2008

[Ensaio] Maldito Graham Bell!

Nem sou tão velho quanto meu arcaísmo possa parecer, mas pode-se dizer que eu seja do tempo em que, no Brasil, telefone era artigo de luxo, e ir ao boteco mais próximo comprar uma ficha ou freqüentar o orelhão da esquina era um ato corriqueiro, extremamente comum. Os grupos de amigos eram mais próximos, todos no bairro se conheciam (ou ao menos conheciam alguém em comum), e quando era necessário falar com um desses amigos era só bater na porta da casa da pessoa, assoviar da janela, ou freqüentar os lugares costumeiros – muitas vezes tão próximos quanto o próximo orelhão! A geração de meus pais viveu isso mais intensamente, eu vivi exatamente na transição. Quando se queria falar com alguém distante, escrevia-se uma longa e cortês carta, perguntando como estava a vida da pessoa, contando o que se gostaria de contar, partilhando sentimentos. Tudo acontecia com mais calma, tudo era menos imediato, e talvez até mesmo por todo trabalho que se tinha para entrar em contato com uma pessoa, tais encontros fossem mais valorizados.

Hoje o progresso chegou, e cada um carrega seu aparelho telefônico no próprio bolso, pra onde for; consegue-se falar com qualquer parte do mundo mesmo estando nos lugares mais remotos, numa praia deserta, ou numa montanha, no meio do mato...coisa inimaginável no tempo remoto a que me referi anteriormente. Qualquer assalariado, qualquer criança, qualquer idoso possui celular – e muitas vezes, numa dessas ironias de que só a vida é capaz, o celular do ascensorista do prédio onde você trabalha possui mais funções do que o seu! Além dos telefones, surgiram vários outros meios de ser encontrado, como MSN, Skype, Orkut, e tantas outras possibilidades. Tudo aparentemente ótimo, perfeito, se não fossem aqueles malditos detalhes que só percebemos ao olhar a situação por outro aspecto – e hoje, a maldita internet não está funcionando.

Muito se fala sobre a artificialização das relações.humanas, da cultura fast food, do imediatismo que nos atinge em cheio. Um dos aspectos dessa transformação é justamente a evolução das telecomunicações, e do papel que a cultura publicitária atribuiu aos meios de comunicação na vida das pessoas. Conheço pessoas que deixam o computador e o Messenger ligados o dia inteiro, mesmo que não estejam próximos a ele, como se fosse uma secretária eletrônica, e já ouvi falar de pessoas que inclusive dormem com o celular ligado do lado da cama! Quantas pessoas recarregam o celular antes que a bateria acabe completamente?! Quem nunca viu, num restaurante qualquer do centro da cidade, uma pessoa com cara de afoita com dois celulares de prontidão sobre a mesa, na hora do almoço?! Sejam quais forem os motivos, profissionais ou não, o fato é que a tecnologia evoluiu e passou a ditar o ritmo das pessoas, não mais estando a seu serviço, mas escravizando-as. E não foi necessário o advento da inteligência artificial, como no filme Matrix, para que isso tenha ocorrido: os apelos comerciais e a falta de reflexão das pessoas sobre os limites do ponderável escravizaram boa parte da população mundial, sem que ninguém percebesse. O horário de almoço não é mais o merecido intervalo entre os expedientes, a hora do sono não é mais um momento sagrado – estamos de prontidão, disponíveis, como que numa eterna espera de uma ligação importante. Seja de amigos, da família, do grande amor, ou do chefe; não importa, no nosso tempo estamos constantemente de plantão, vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana!

A grande pergunta se divide em duas: primeiro, é necessário tudo isso? Segundo, essa disponibilidade toda é boa? Sinceramente, ainda não sei responder...

quinta-feira, 3 de julho de 2008

[Ensaio] Música

"Quantas vezes eu cantava, quando não podia nem falar..." - Trecho de "Meu Violão", Paulinho da Viola.
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A boa música faz milagres! A música acalma a fúria dos deuses, explicando a vida em oráculos pré-dispostos. Acervo zodiacal. Música é a conjunção carnal entre física e metafísica, com um orgasmo em cada compasso, com um suspiro em cada pausa. Não basta a ciência, é muito mais do que matemática ou filosofia; e na arte, ainda está alguns degraus acima da poesia. Torna forte o que um dia foi fraco, compreensível o que é insano, e eterno o efêmero. Faz o cizudo ensaiar um tango 'solo' em frente ao espelho do elevador, faz o tímido cantar a toda voz para uma platéia de azulejos, faz o louco parar silencioso e atento. Egoístas esquecem a frieza por um minuto intenso de paixão, moças feias dormem amadas, enlaçadas ao travesseiro. Purifica ares, elimina medos, muda o aroma do vinho e, algumas vezes, multiplica os dedos.

[Ensaio] Devaneios modernos...

Para onde foi a elegância? Arcos, curvas e colunas perderam espaço para frias e duras linhas retas. Se no passado a beleza arquitetetônica estava expressa em casarões e prédios públicos, hoje ela se esconde em luxuosos condomínios fechados, bem longe dos olhos dos famintos. No centro da cidade, apenas janelas quadradas, com vidros lacrados para isolar o som e o inconveniente calor que vem das ruas; o mundo pode acabar lá fora, pois continuaremos entretidos pelo trabalho, ou pela novelas das 8. Morre um pouco mais de nosso Helenismo romântico, dando espaço ao pragmatismo burguês anglo-americano - afoito e ignorante. Junto com as belas formas do centro da cidade, hoje expressas somente em decadentes casarões, caminha toda a cultura ocidental, em sua insessante e inconsequente busca pelo imediato, frio, fugaz e lucrativo. Se fosse sexo, seria nas coxas; se fosse comida, seria miojo. A elegância do passado foi perdida num misto entre a pressa pelo resultado, e a "vergonha" da ostensividade da riquesa - hoje nem a belas construções o pobre tem mais direito de desfrutar, a não ser que esteja previamente cadastrado na portaria.

[Ensaio] Teoria da relatividade e as noites tropicais...

Em 1905, um doidão trocou os conceitos independentes de tempo e espaço da antiga teoria de Newton, considerando espaço-tempo como uma entidade geométrica, o que resultou na hipótese de haverem 4 dimensões: 1 atemporal, e outras 3 espaciais (onde poderiam ser aplicados conceitos materiais e geométricos). Alguns anos depois, o mesmo doidão incluiu nos cálculos que embasam esta teoria os efeitos da gravidade, e deu-lhe o nome de Teoria Geral da Relatividade. Parece complicado à primeira vista, mas tudo isso não passa de desdobramentos do estudo da mecânica dos movimentos (isso mesmo, camarada: aqueles exercícios chatos do segundo grau, de Movimento Retilínio Uniforme, etc!), aplicados à dinâmica espacial do universo, relacionadas ao tempo e adicionadas do coeficiente da velocidade da luz no vácuo, ao quadrado, para dar-nos uma noção de comprimento (afinal, não teria sentido somar tempo e distância, simploriamente)...só isso! Tudo isso porque um outro doidão, muito antes, passou um tempo olhando pro céu, e numa de suas piras percebeu que cada elemento que compõe o universo se move em relação ao outro (o sol não é o centro do universo, apenas um ponto de referência em relação à terra!) - e que o sol também se move, se considerado em relação a outro ponto de referência. Ora, se não existe movimento sem deslocamento no tempo, temos que enquanto o tempo se desloca (ou seja, sempre!) estaremos em movimento em relação a algum ponto de referência remoto. Simplificando, estar 'parado' significa apenas que encontramos uma forma de não nos deslocarmos em relação a pontos de referência próximos. Essa relação entre movimento e ponto de referência deu origem ao princípio da relatividade, que por sua vez deu origem às teorias da relatividade (que considera o tempo interagindo com as outras 3 dimensões conhecidas, e a velocidade da luz - sobretudo considerando-se pontos remotos do universo, como uma outra galáxia, por exemplo)...De todo esse embroglio teórico, tem-se que se um indivíduo for considerado isoladamente num ponto remoto no espaço, e colocarmos instantaneamente ao seu lado uma massa suficientemente grande, a deformação que esta massa causará no espaço-tempo em sua vizinhança irá curvar e alterar as coordenadas originais do espaço-tempo no local (afinal, segundo a teoria do doidão, existe essa interação geométrica, 4 dimensões - sendo uma atemporal - lembra?!). Num exemplo meramente ilustrativo, essa deformação seria como soltar uma esfera de massa considerável sobre uma cama elástica: a esfera produzirá uma deformidade na cama elástica, diretamente proporcional à sua massa. Deste modo, na teoria da relatividade geral, não existe ação à distância e a gravidade não é uma força mas sim uma deformação geométria do espaço encurvado pela presença nele de massa, energia ou momento.

Isso explica, por exemplo, o movimento do bêbado em direção à parede: como suas orientações sensoriais estão sensibilizadas pelo consumo excessivo do álcool, relativizando-as, ele busca um ponto de referência fixo para poder estabelecer sua sensação de inércia - a parede - enquanto tudo à sua volta se movimenta na dinâmica espaço-tempo já mencionada! Ao segurar a parede (elemento de massa superior à sua), o bêbado restabelece um ponto de referência, e continua vendo o resto do mundo girar à sua volta.
De um modo parecido, enquanto você fita nos olhos uma bela mulher - e o movimento à sua volta parece inerte por alguns instantes - aquela gordinha bêbada chega e começa a puxar assunto, sem que você perceba o deslocamento dela em relação à sua pessoa, queimando o seu filme e perdendo-se o tempo em que você deveria começar seu Movimento Retilíneo Uniforme em relação à beldade que antes lhe dava condição. Ora, o indivíduo estava em um espaço remoto (em movimento geodésico representado por uma linha reta em direção ao futuro!). Ao colocarmos instantaneamente ao seu lado uma massa suficientemente grande, a deformação causada no espaço-tempo em sua vizinhança irá curvar e alterar as coordenadas originais do espaço-tempo no local (no exemplo, a deformação causada no espaço-tempo à sua vizinhança é representada como a gordinha queimando o seu filme!).
E tem mais: se o movimento geodésico causado pela gordinha bêbada for gerado num ponto próximo ao bêbado encostado na parede do primeiro exemplo, o bêbado se desprenderá de seu ponto de referência inercial, e orbitará em torno dela enquanto os efeitos do álcool estiverem afetando seus elementos sensoriais - tal qual ocorre com a lua, quando gravita em torno da terra!
Uma terceira hipótese é a que o indivíduo esteja sóbrio, mas a gordinha e sua considerável massa estejam completamente embriagadas...aí, meu chapa, o único jeito de se livrar da força geodésica exercida pelo elemento de massa considerável é aplicando uma força ainda maior que o seu poder de atração, e adquirir movimento propulsório em direção contrária à área de influência gravitacional. Num exemplo prático, é o mesmo que dizer "Vou ao banheiro!" ou "Meus amigos estão me chamando!", e não mais voltar - caso contrário, você será sugado em direção à "força" gravitacional (ou, na teoria da relatividade, a deformação geométrica do espaço) exercida, mas aí já entramos em teorias derivadas, buracos negros, nebulosas, etc.
Bom, vou parando por aqui, que o Stephen Hawking já está quase levantando da cadeira pra me dar uma surra, e o Einsten vai puxar meu pé de noite! Mas algo me diz que o Galileu e o Newton estão rindo da avacalhação! hehehe

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OBS: Atenção universitários em busca de artigos, alunos de segundo grau, e afins - este é um texto literário, livre, e sem qualquer preocupação com a realidade efetiva das ciências exatas! O professor vai te dar zero se V.Sa. usar isso como trabalho pra feira de ciências!